Calor dos diabos




Crônica #21 publicada no Diário de Santa Maria 07.12/2012 | N° 3319

Tenho uma teoria: o frio nivela as pessoas por aquilo que elas têm de melhor. Já o calor expõe tudo o que há de mais nocivo nelas. Fico pensando naqueles que gostam do verão. Que tipo de sangue amarelo corre nas veias desse povo? Como apreciar o sol agindo como um maçarico e disparando um calor insuportável que nos faz suar como nascentes de água morna? Há solução para amenizar esse desconforto? Ao menos se pudéssemos ficar sepultados durante três ou quatro meses dentro de uma sala ou quarto, com ar-condicionado bufando, impregnados pela sensação de prazer que esse equipamento nos proporciona, buenas, aí seria outra história! Não tenho ar-condicionado em casa. Preciso comprar um. No trabalho, por atuar dentro de um estúdio de rádio, onde o ambiente é climatizado, não tenho do que reclamar. O problema é quando coloco o pé para fora da empresa. É como se o diabo e seu tridente disparassem chamas vindas do inferno direto para a minha cabeça. 36°. Deus do céu! E lá vou eu rumo a Chácara das Flores, encarar um ônibus que raramente passa no horário, e que nos deixa com a sensação de que somos dúzias de sardinhas navegando numa grande panela de pressão prestes a explodir. Quem passa por dilema semelhante, sabe do que falo.

Voltando a falar no Criador, eu fico pensando nos porquês, de nessa vida, ter nascido em um país tropical. Gosto do frio e da sensação que ele me proporciona. O inverso me inspira, em todos os aspectos. Meus ancestrais não devem ter passado por isso! 36°. Deve ser carma. De toda a forma, cá estou eu, no final da primavera, percebendo o fogo do verão se aproximando como o apocalipse.

Como não há o que fazer, além de estar munido de boné e óculos escuros, eu pretendo comprar um novo par de sandálias, quem sabe encontrar algumas camisas novas com tecido leve e retirar do armário minhas bermudas ridículas. Depois vou respirar fundo e encarar os dias do porvir. Providências a serem tomadas antes de dormir: pouquíssima roupa, ventilador de teto ligado na velocidade máxima e outro aparelho semelhante turbinado direto na minha cara. Isso sem dúvida irá minimizar o Efeito Estufa dentro do meu quarto. Gosto de ouvir o barulho das hélices e a sensação que nos toma o corpo de madrugada, quando a temperatura chega ao seu ponto mais agradável. Certas vezes até dá pra puxar um lençol e se cobrir.

Só espero que o verão e todo esse calor dos diabos passe o mais rápido possível. Deixo aqui meu pedido aos céus para que positivamente consiga superar grande parte daquilo que a próxima estação trás em seus anexos. Como sou um sofredor por antecipação, antes de terminar a primavera, eu decreto: - que venha o verão! E antes de o verão começar, eu imploro: - que o inverno chegue o mais rápido possível.

Comentários